quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Broxada


- Uma menina me disse que acha fofo broxar.
- Porque você devia estar broxando na hora, presumo.
- Não, infelizmente. Porque só broxa quem tá em ação, né?!
- É...
- Na verdade, foi a namorada de um amigo, a Nina. Acabou expondo o cara.
- Mas você prefere broxar ou não ter a oportunidade de broxar?
- Eu prefiro broxar.
- Muito bem, cara. Só se vive uma vez.
- Porque mesmo uma broxada pode ser a semente para uma nova oportunidade. E como disse a Nina: broxar é fofo.
- Como foram suas últimas broxadas?
- Na última tive uma boa razão.
- Qual?
- A menina tinha mau hálito.
- Chato isso. E você não tava bêbado ou drogado, imagino.
- Cê viu aquela pesquisa que concluiu que o hálito do brasileiro piorou muito de um ano pra cá?
- Você tem que ler menos o Diário do Centro do Mundo.
- A era Temer produz mais broxadas, é fato. Nem preciso de pesquisa pra concluir.
- Me diz uma coisa...
- Uhm...?!
- Quando foi essa sua última broxada?
- Ontem.
- Entendi. Você acha que foi culpa da era Temer?
- Sim e não. Mau hálito, né?! Que pode ter diversas razões, inclusive políticas.
- Cara, o que tem de fofo nessa situação toda? Broxada é broxada. Desagradável desde a época das cavernas.
- Não tinha broxada naquela época. Tinha só o instinto, que era pegar a fêmea de paulada quando a vontade vinha.
- Ainda assim, nunca vai ser algo edificante.
- Inclusive, evolutivamente, a broxada é a desconstrução total do macho das cavernas. O homem sensível certamente broxa mais.
- Sei. Você quer dizer que as suas broxadas são sintomas de uma era em que a igualdade de gênero é iminente?
- Talvez seja isso sim.
- Seria uma broxada do bem, um ato de solidariedade ou, como disse a tal de Nina, algo fofo.
- Por que não? Um atestado de fragilidade involuntário.
- Porque não é esse tipo de “adesão” à causa que as mulheres querem.
- Se os tempos são de fome, eu passo fome. Se os tempos são de desgraceira mental, eu broxo. Sou um homem do meu tempo.
- Tá ligado que, se essa tal de Nina falou mesmo isso, não foi a sério, certo?!
- Não importa.
- Pedro, isso tudo não seria só contorcionismo retórico pra se consolar de uma noite ruim?
- É e não é. Veja bem...
- Você quer um abraço?
- Podemos tentar fazer...?
- Não.
- Tá, serve o abraço.