sexta-feira, 19 de outubro de 2012

50%


Puta festa na casa de Vitinho Pollidoro. Gaya e Ju enfim conseguem entrar no disputado banheiro.

- O Pollidoro tá me dando brecha, mas o Vitinho Villanueva fez aquela música fofa pra mim - aperta o peito, comovida - Ai amiga, vou  ficar mais loucona, aí eu decido.
- Música pra você?
- É. Garota escarlate, ou menina escarlate, sei lá o nome da breguice.
- Mas o Villanueva não compôs isso pra namorada ruiva dele?
- Querida, ruiva sou eu. Aquilo é uma experiência capilar mal sucedida – Gaya encara o espelho, fatal.

Enquanto retoca o batom, Gaya escuta um barulho surdo, como um pedregulho caindo na água.

- Ah, eu não acredito, Ju! Tá cagando?
- Já caguei. E daí?
- E esse cheiro? Vai pegar mal.
- Ih!
- Que foi?
- A descarga.

Com o rosto restorcido de repugnância, Gaya larga a maquiagem e aperta a descarga furiosamente. Nada.

- Gaya, dá licença – Ju afasta a amiga e abaixa a tampa do vaso sanitário – Pronto. Abafa o caso. Bora?
- Bora é o caralho! Cheio de boy querendo usar o banheiro e essa merda aí boiando, fora esse cheiro. Vão pensar que fui eu.
- Não. Fifty-fifty.
- Oi?
- 50% de chances para cada uma.
- Filha da puta! E se o Vitinho Pollidoro entrar agora? Vai olhar isso aí, associar a mim e ficar broxado.
- Por acaso você vai trepar com o Pollidoro hoje?
- Por que não? Tô na festa dele, na casa dele e o babaca só falta lamber minha bota.
- Olha, o Pollidoro deve estar acostumado a encontrar merda no banheiro. Afinal, a descarga dele nem funciona.
- Mesmo se não for ele. Pode ser o Caio, o Macarrão, o Guto, o Vitinho Villanueva... E pior: podem entrar todos pra cheirar pó. Resolve aí, pelamor! Tenho uma reputação.
- Gaya, você tem quase 30, fuma, bebe, cheira e cai na sarjeta. Não é mais aquela paquita não. Larga de ser ridícula!
- Vai se preocupar por que, né? Seu namorado peida e arrota em público. Você também perdeu os pudores.
- E você é uma vaidosa doentia!
- Se você fosse bonita também seria vaidosa.
- Piranha! Não sei por que eu te aguento!

Batidas impacientes na porta.

- É o Vitinho, escutei a voz. Não sai agora! – sussurra Gaya.
- O Pollidoro ou o Villanueva?
- Para de me zuar e faz alguma coisa.
- Faz você! Minha "reputação" já tá cagada mesmo.
- Você começou isso!
- Infeeeerno! – Ju enfia a mão na bolsa - Toma, faz uma pá com esse flyer e empurra.
- Empurra o quê?
- A merda. Empurra pra dentro do cano. Faz uma canoinha assim, ó.
- Eu? Mas a merda é sua.
- É isso ou fifty fifty.

Gaya trinca os dentes e encara a amiga cheia de cólera.

- Tô te ajudando, Gaya. O trauma vai fazer de você uma pessoa melhor.
- Me dá essa merda de flyer, sua vaca!

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